[Entrevista] Conversamos com Ana Paula Xongani
Ana Paula Xongani, mulher negra, afroempreendedora, ativista, referência de moda, ela também tem um canal no Youtube onde fala sobre autoestima e empoderamento feminino.
Xongani também é o nome da sua marca de roupas e acessórios, ideia que foi se construindo muito antes do nome. Cristina, mãe de Ana Paula é parte fundamental dessa história, já que a marca nasceu da busca dela pela valorização da auto estima da sua filha na infância, criando peças que reforçassem a beleza e as características de Xongani.
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Adulta ela fez faculdade de Belas Artes e estudou as artes africanas, quando viajou para moçambique, conheceu de perto os tecidos africanos, seus grafismos e estampas, daí juntou seu conhecimento com o trabalho da mãe que sempre criou roupas para ela. Assim nasceu o ateliê. Hoje a marca já tem sete anos.

Perguntamos quais são as inspirações para as suas criações e ela nos contou sobre os grafismos e as cores dos tecidos africanos, que ela importa de Moçambique, também algumas figuras orgânicas, simetria a assimetria reverberam em outras ideias de cortes aplicações e técnicas diferentes. Ressignificando e dizendo que faz moda a partir de mulheres negras com referências africanas. Seu objetivo é se colocar no mercado enquanto fazedora de moda mesmo.
“O mercado precisa atender as diversas histórias que são comunicadas na sua existência.”

Ela também falou sobre o seu posicionamento dentro desse mercado, explicando que o que ela faz não é “moda-afro”, é Moda Afro-brasileira, que se inspira sim na moda da África contemporânea, mas que negocia com o mercado brasileiro. Sua marca vai está indo muito bem, vestindo nomes famosos, atores como Lázaro Ramos e Sheron Menezes, e cantoras como IZA e Tássia Reis.
A empresária acredita que o afroempreendorismo é transformador e que temos que pensar num espaço de visibilidade e formação de opinião, mas é importante ter um discurso plural.
É preciso humanizar o ser negro e entender que somos plurais, uma marca ou uma pessoa negra é pouco e nunca vai dar conta de representar todos nós. Precisamos de equidade nos espaços econômicos e diversas frentes de luta contra o racismo, várias expressões de moda em diferentes espaços são importantes para uma mudança efetiva.
Outra questão muito forte no seu discurso é sobre o nosso poder como consumidores, as nossas escolhas são responsáveis também pelo crescimento de marcas como a dela por exemplo. Por isso é importante fortalecer esses pequenos negócios para que eles sejam cada dia maiores. Isso é consumo consciente, é parar de dar o nosso dinheiro para marcas que não nos representam e nem estão interessadas em representar. É importante a gente se conscientizar de qual o mercado que a gente está alimentando e fazer a escolha. Além de pensar no que queremos comunicar com a roupa que estamos vestindo.
“A Xongani cria novas possibilidades de comunicação, cria novas ferramentas para que novas pessoas comuniquem suas histórias.” – Ana Paula Xongani

Conversar com a Xongani e entender mais sobre o trabalho dela não apenas como empresária, mas como ativista, me fez entender que mais que moda e um negócio, a sua marca comunica um ideal. O ateliê construído por mãe e filha, para além da família de sangue que administra tudo, conecta também mulheres e homens negros. Mostrando que não somos desunidos e que estamos cada vez mais nos reconectando com nós mesmos, com as nossas características, a nossa beleza e história. Também é nítida a preocupação deles em atender mulheres de várias idades e com diferentes corpos. Esses corpos são reais, a linha de trajes de banho mostra isso muito bem. É um trabalho bem poderoso e transformador, que através da estética faz com que pretos e pretas amem mais sua identidade.